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Mensagem por lili Sex 7 Mar 2014 - 16:21

Tratamento do alcoolismo : o Baclofeno autorizado dentro em breve ( em França)

Publicado em 03/03/14
Yann Saint-Sernin
Tradução : Elisa Lopes
Dentro de algumas semanas, um relaxante muscular, o Baclofeno, será autorizado para o tratamento do alcoolismo. Uma decisão desejada pelos pacientes.

A Agência Nacional para a Segurança do Medicamento (ANSM) acaba de o confirmar : o mais tardar, dentro de algumas semanas, o Baclofeno será autorizado para o tratamento do alcoolismo. Uma decisão que muitos lamentam ser tardia, e que deve muito ao activismo dos doentes. Porque, em muitos aspectos, a surpreendente epopeia desta molécula com os efeitos espectaculares que lhe têm atribuído põe em causa o percurso normal dos medicamentos. « É a história do medicamento « Médiator », mas ao contrário. É a história de uma inércia. Mas que revela, mais uma vez, o peso desmesurado da indústria sobre o nosso sistema de saúde », lança o Prof. Bernard Granger (1), chefe do serviço de psiquiatria do hospital Tarnier, em Paris e que foi um dos primeiros prescritores deste medicamento.
A experiência de um cardiologista:
«Trata-se na sua base de um relaxante muscular utilizado em patologias do tipo de esclerose múltipla desde há cerca de quarenta anos », explica o Prof. Jean-Michel Delile (1), psiquiatra e director do CEID (Comissão de Estudo e de Informação sobre a Droga) de Bordéus. Mas este medicamento deve a sua nova vida à experiência do cardiologista Olivier Ameisen que, desesperado por não conseguir tratar a sua própria dependência do álcool, decide nos anos 2000 testar nele mesmo um protocolo experimentado até aí unicamente em ratos. Os resultados são espantosos. Em alguns meses, ao aumentar progressivamente as doses do Baclofeno bastante acima da posologia indicada quando é utilizado como relaxante, o médico tornou-se completamente indiferente ao álcool. Desaparece não só a necessidade de beber, mas o facto de beber um só copo não lhe provoca nenhuma recaída.

Um livro em 2008
Mas, no seio da comunidade científica, o acolhimento é mais reservado. «As pessoas tomaram-no por um desmiolado», lamenta Bernard Granger. Repugnado com esta indiferença, Olivier Ameisen publica então um livro em 2008, “ Le Dernier Verre”( “ O Fim do meu Vício”)(2). O impacto é considerável do lado dos doentes. «No início, nenhum médico queria receitá-lo. Adquiríamo-lo na internet ou em Espanha. Depois, começámos a identificar os médicos que o prescreviam criando uma associação», explica Sylvie Imbert, presidente de uma associação de doentes.
« A grande originalidade deste medicamento é terem sido os doentes a impô-lo. Este simples facto fez cair por terra o dogma que pretendia fazer crer que a maioria dos alcoólicos o recusava. Dada a afluência dos pedidos, parece que era mais a oferta de cuidados que não estava adaptada», concede Jean-Michel Delile.
Se os médicos se mostram reticentes deve-se à falta de autorização de colocação no mercado (AMM) do Baclofeno direccionado ao alcoolismo. Prescrevê-lo fora da regulamentação põe então em causa a responsabilidade do médico assistente. E alguns apontam efeitos secundários na utilização indo, na maior parte do tempo, além das doses recomendadas até então. «Este medicamento era muito conhecido. Em quarenta anos nenhuma morte lhe foi imputada», alega Jean-Michel Delile. Por seu lado, as sociedades científicas levantam objecções e reclamam estudos. Mas nenhum protocolo de grande amplitude será implementado.
É que em França, este género de estudo é geralmente entregue à indústria. «Não temos o poder de impor investigação aos laboratórios. Eles têm a liberdade de pedir ou não uma alteração de autorização de comercialização (AMM)», explica-se à ANSM. Mas a Indústria não se mexeu. «Compreendemos depressa que não havia nada a esperar desse lado. Alguns médicos testaram-no então neles próprios», explica Jean-Michel Delile. «Os laboratórios mandaram-nos passear», enfurece-se Bernard Granger. Porquê? «Este medicamento é genérico e custa 3 euros. Não havia nenhum lucro em vista, na medida em que a indústria havia iniciado investigações para produzir outros medicamentos contra o alcoolismo que esperavam vender mais caros. Mas, entretanto, havia pacientes a morrer», lamenta o psiquiatra.
Não é eficaz a 100%
Este pouco entusiasmo da indústria explica as reticências das poderosas sociedades científicas, beneficiando claramente dos financiamentos da indústria? «Isso foi dito. É insultuoso. É preciso lembrar que fizemos pedidos de financiamento público para desenvolver estudos: ficámos abananados! Como muitos, lamento este atraso. É certo que no início, a Sociedade Francesa de Alcoologia (SFA) teve uma posição tímida, principalmente no que diz respeito a doses elevadas. Pessoalmente, quando constatei os resultados, prescrevi-o, mesmo não sendo eficaz em 100% dos pacientes », explica Henri-Jean Aubin, presidente da SFA.
«Houve um atraso administrativo que se explica sobretudo por querelas no seio da comunidade médica. Até àquele momento, admitia-se que não havia cura para o alcoolismo e que o único remédio era a abstinência. Este medicamento desmitificava esse dogma. Muitos recearam que o Baclofeno afastasse os doentes de uma assistência médica global. Com a experiência, verifica-se que as duas abordagens são complementares», prossegue Jean-Michel Delile.
Nos finais de 2013, cerca de dez anos depois da descoberta de Olivier Ameisen, o laboratório Ethypham decidiu pedir uma autorização de comercialização para o Baclofeno, desencadeando um estudo de grande amplitude. Uma notícia que faz sorrir Bernard Granger: «Eles vão modificar ligeiramente a molécula para a retirar dos genéricos, vão assim poder vendê-la dez vezes mais cara! Enquanto que esta molécula estava disponível há muitos anos a um preço irrisório…» Segundo a Cnam (Caisse nationale assurance-maladie), (correspondente à Segurança Social em Portugal)(3), em 2012, cerca de 50 000 alcoólicos franceses utilizavam o Baclofeno fora de qualquer quadro regulamentar
(1) Estes médicos garantiram ao jornal “Sud-Ouest” não terem nenhuma ligação financeira com qualquer firma susceptível de comercializar o Baclofeno ou outro medicamento contra o alcoolismo.
(2) Título do livro traduzido em Português do Brasil.
(3) Nota da tradutora.
(4) O presente texto não respeita o acordo ortográfico.

lili
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