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TRATAMENTO DA ALCOOLDEPENDÊNCIA PELO MÉTODO DO PROFESSOR AMEISEN

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Mensagem por lili Ter 18 Mar 2014 - 22:58

No documento que a seguir se publica, O Dr. Ramiro Araújo, médico psiquiatra no Hospital da Lapa, no Porto, explica em que consiste o tratamento da Adição ao Álcool através da utilização do medicamento genérico Baclofeno ( Lioresal).
Após a leitura, se houver necessidade  de obter informações complementares, façam o favor de perguntar.

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O álcool é uma das substâncias com efeito ativo sobre o cérebro, que tanto pode ser utilizado para “efeitos recreativos” ou obtenção de diversas modalidades de prazer, como para aliviar tensões, apreensões, angústias ou outros estados de ânimo, causadores de sofrimento psicológico.
Este efeito, quando experienciado repetidamente pode gerar, mais rápida ou mais lentamente, um desejo de repetição, que, dependendo das caraterísticas individuais e da própria droga, num determinado contexto psicológico (como cultura tradicional e fatores sociais stressantes), pode transformar-se numa necessidade, que, ao contrário das necessidades básicos (fome, sede, sono, respiração, etc.) se torna imperativa e insaciável (“CRAVING”), que se sobrepõe à vontade do próprio indivíduo e o torna dependente.
Por outras palavras: dependência é a necessidade patológica (que se manifesta por CRAVING), caraterizada por incapacidade de saciação na utilização de uma substância, que tem efeitos nocivos sobre a saúde física e psíquica do indivíduo, e geralmente também afeta (com consequências igualmente muito nefastas) a sua situação social, laboral e familiar.
Quando a droga utilizada e responsável por estes efeitos num ser humano é o álcool etílico, dizemos que o indivíduo sofre de alcoolismo.
A RESSONÂNCIA MAGNÉTICA FUNCIONAL permite visualizar a intensidade do CRAVING no cérebro humano, como se pode constatar no vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=HIiEqrj7LQs em que as cores amarela encarnada mostram a intensidade do fenómeno, em doentes aditos ao álcool e/ou à cocaína.
O alcoolismo (como as outras adições) é simultaneamente um problema que tem de ser resolvido e uma doença que tem de ser tratada. É IMPRESCINDÍVEL QUE O PACIENTE COMPREENDA E ELABORE MENTALMENTE ESTE PROCESSO, DENOMINADO ACEITAÇÃO, E QUE A PARTIR DELE SE MOTIVE PARA SER TRATADO, PARA PRESCREVERMOS O TRATAMENTO.
Distinguimos no fenómeno DEPENDÊNCIA duas formas: dependência psicológica (vivenciada subjetivamente) e dependência física, que consiste no aparecimento de sintomas de ativação do sistema nervoso autónomo, e distúrbios fisiológicos diversos, que causam sofrimento (síndrome de privação) e impõem ao paciente o consumo imediato da substância (em quantidades progressivamente crescentes) até que este se atenue.
No caso particular do álcool (e dos barbitúricos), uma percentagem dos síndromes de privação pode evoluir para uma forma maligna, chamada delirium tremens, em que o paciente perde o conhecimento, está aterrorizado por conteúdos alucinatórios da sua consciência (e a eles reage como se fossem reais) ao mesmo tempo que as suas funções fisiológicas entram em funcionamento deficitário.
Uma percentagem de pacientes (±10%) afetados por delirium tremens, mesmo quando assistidos numa Unidade de Cuidados Intensivos (U.C.I.), morre.
O delirium tremens tanto pode ocorrer na sequência de um síndrome de privação espontâneo (porque o doente não repôs atempadamente os seus níveis de alcoolemia), como nas fases prodrómicas de determinadas doenças naturais ou na sequências de traumatismos ou intervenções cirúrgicas, como durante as curas clássicas de “desintoxicação”/desabituação (as que se fazem correntemente nos nossos serviços de saúde, tanto públicos como privados), quando o doente tem de cessar bruscamente o consumo das suas bebidas.  
A dependência impõe ao paciente o consumo do álcool e este provoca de imediato alterações de comportamento por intoxicação aguda (as diversas variantes possíveis de F 10.0 da CID 10, ou seja “embriaguez”) e, a longo prazo, nos diversos órgãos, um extenso rol de doenças físicas, cuja evolução leva à perda completa das faculdades mentais, à invalidez e muitas vezes mesmo à morte. Morrem em Portugal, com estas doenças, cerca de 7.500 pessoas por ano, cerca de 20 portugueses por dia!
As consequências do alcoolismo sobre as famílias, sobre a economia fami-liar e a produtividade laboral, as perturbações que causa no desenvolvimento físico e mental das crianças e jovens, como contribui para a ocorrência de acidentes laborais e rodoviários, constituindo causa de morte ou de invalidez para outros cidadãos, etc., etc., são, infelizmente, bem conhecidas e penso que não será necessário pormenorizá-las para sensibilizar as pessoas para uma necessidade crescente (sobretudo em tempos de crise!), de encarar esta doença/problema social, com seriedade, sem hipo-crisias.
Quando o Professor Olivier Ameisen publicou em 2008 o seu livro “ Le Dernier Verre”( tradução em Português do Brasil: “O Fim do Meu Vício”), deu a conhecer à humanidade e à comunidade científica mundial que o medicamento BACLOFENO, sintetizado na década de 1920/30, utilizado como relaxante da espasticidade neuromuscular desde a década de 1970/80, tem também um efeito pronunciado no tratamento dos transtornos neurofisiológicos que o álcool causa no cérebro (que já vimos demonstrados na parte final do vídeo antes referido).
Experimentou o medicamento em si próprio, ultrapassou as posologias diárias necessárias para controlo do craving, venceu a dependência psicológica, que ainda subsistia e ficou indiferente perante o álcool, isto é, recuperou a capacidade de escolha, na sua consciência (em sentido psicológico) de beber ou não beber, segundo a sua vontade, uma qualquer bebida, com ou sem álcool. Por outras palavras, sentiu-se restituído à INDIFERENÇA PERANTE O ÁLCOOL, que é natural em qualquer ser humano mentalmente saudável.
Este método farmacológico de tratamento da alcooldependência foi rapidamente adotado em vários países, com algumas modificações, desenvolvidas por discípulos do Prof. Ameisen, no sentido de o adaptarem à realidade concreta (não só legal e burocrática dos seus países), mas também para encontrarem estratégias e “astúcias” que permitam utilizar, sem riscos para os doentes (ou com o mínimo de probabilidade de ocorrerem), posologias diárias do fármaco, superiores às que eram usadas nas doenças neurológicas, capazes de proporcionar aos pacientes o objetivo libertador pretendido: controlo do craving ou indiferença. Hoje sabemos que PROLONGANDO DURANTE VÁRIOS ANOS o tratamento com as posologias que proporcionam (num determinado paciente, e que são muito variáveis de pessoa para pessoa) o regresso à normal indiferença perante o álcool, acabaremos por poder diminuir (lentamente) tais posologias, porque o doente está definitivamente curado!
Com este método, nunca se impõe ao paciente que cesse subitamente de beber, (ele deixará de ter, “naturalmente” essa necessidade patológica no decurso do tratamento), ipso facto nunca ocorre síndrome de privação (consequentemente também está excluído perigo de ocorrência do temível delirium tremens) e também não há (salvo raras exceções, por razões sociais) necessidade de qualquer internamento.
Se não tiver sido necessária uma intervenção psicológica prévia, para que o doente consciencialize a aceitação ou desenvolva a motivação
, as observações psicológicas complementares de diagnóstico ou a aplicação de técnicas psicoterapêuticas destinadas a corrigir aspetos da personalidade que necessitem dessa ajuda, deverão ocorrer oportunamente, depois de o paciente estar abstinente, quando tenha maior probabilidade de colaborar e de tirar o máximo proveito desses tratamentos.
A “desintoxicação”, ou seja o tratamento das sequelas fisiológicas nos mecanismos metabólicos, que foram provocadas pela constante luta do organismo, metabolizando, com o máximo do esforço dos sistemas enzimáticos, o álcool, enquanto que a dependência impunha a constante reposição das alcoolemias, também será feita (tendo em conta as vitaminas, enzimas e coenzimas que intervêm no metabolismo do etanol) quando o paciente deixa de beber.
Os resultados deste método, tanto nos países onde já é utilizado em grande escala, como na minha experiência pessoal (cerca de uma centena de doentes), apontam para que, nos pacientes que cumprem com rigor (e/ou quando as famílias estão atentas e vigilantes para que cumpram!) os esquemas de tratamento prescritos, as percentagens de sucesso são muito elevadas.
Quanto a efeitos secundários indesejáveis, há que dizer que podem ocorrer, sobretudo quando os pacientes sofrem, em comorbilidade, de certas patologias que estão bem identificadas (como apneias do sono, epilepsias, transtornos psiquiátricos, diabetes, doenças neuromusculares, etc.) pelo que nesses casos o médico responsável pelo tratamento deve adotar os procedimentos mais rigorosos que aprendeu na sua formação específica como prescritor.
A eficácia dos tratamentos das patologias relacionadas com o consumo do álcool é confirmada, não só por muitos milhares de pessoas tratadas em todo o mundo, que dão o seu testemunho, como pelas centenas de médicos prescritores (só em França mais de um milhar!).
Em França existem 2 associações de doentes e seus familiares, médicos e outros profissionais de saúde, amigos e cidadãos interessados filantropicamente no tratamento do flagelo social ALCOOLISMO pelo método do Professor Ameisen: Association AUBES e Association Baclofène:
[color:cf12=#0000ff]http://www.baclofene.org/baclofene/category/news
http://www.baclofene.fr/portal.php
Em Portugal foi recentemente criado o FORUM BACLOFENO, ALCOOLISMO E OU-TRAS ADIÇÕES - https://forumbaclofeno.directorioforuns.com/
Manifesto a minha maior admiração pelas filantropas e filantropos que o criaram e mantêm. Participo nele, convidei os meus amigos e colaboradores profissionais a participarem também, e tenho uma suprema esperança: QUE DESTE FÓRUM SE CONSTITUA TAMBÉM UMA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE DOENTES TRATADOS COM BACLOFENO, SEUS FAMILIARES E AMIGOS!  

Com os meus melhores cumprimentos,
Ramiro Araújo

lili
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